Jornada de Lutas

MST anuncia Jornadas Nacionais da Juventude e por Reforma Agrária e justiça climática

Mobilização nacional que combina denúncias e propostas, ocorre entre os dias 31 de maio e 7 de junho em todo o país

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

Em um ano decisivo para a agenda ambiental global, com o Brasil sediando a COP30 em Belém (PA), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lança uma ampla mobilização nacional que combina denúncia e proposta. Entre os dias 31 de maio e 7 de junho, o Movimento realizará a 16ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra e a Jornada Nacional em Defesa da Natureza e Seus Povos, com uma série de ações para expor os crimes ambientais do agronegócio e apresentar a Reforma Agrária Popular como alternativa concreta à crise climática.

Com o lema “Reforma Agrária Popular: pela natureza e os povos para enfrentar a crise ambiental!”, as Jornadas se desdobrarão em múltiplas frentes. Elas começam neste fim de semana, com ações de caráter pedagógico e organizativo. No próximo sábado (31 de maio), Assembleias de Base em todo o país deverão debater a crise ambiental e suas alternativas.

Bárbara Loureiro, da coordenação do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, afirma que as ações de denúncia dos crimes ambientais que têm acontecido no dia a dia, nos nossos estados, nos nossos biomas, e seus verdadeiros responsáveis; mas também pelo anúncio da Reforma Agrária Popular como essa saída popular concreta para enfrentar a crise ambiental.

“Vamos ter plantio de mudas, doação de mudas em todos os biomas, e a gente já começa agora, dia 31, em todas as nossas áreas, com as assembleias de base. Esse mês, as assembleias vão ter como tema ‘Crise ambiental e suas consequências’, para a gente olhar em cada assentamento nosso, em cada acampamento, em cada espaço que a gente está: como temos sentido a crise ambiental; fazer essa análise de diagnóstico de quem ali são os causadores, quem tem provocado essa crise; mas também como podemos, coletivamente, nos organizar onde estamos para construir essas soluções”, afirma Loureiro.

Foto: Arquivo MST

Nas cidades, a “Jornada de Lambes” levará cartazes e adesivos a 11 estados, enquanto projeções em prédios públicos de capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belém amplificarão a mensagem do Movimento. Também estão previstos Tribunais Populares que julgarão simbolicamente casos emblemáticos de crimes ambientais em diferentes regiões – das enchentes no RS às queimadas no CE e MA, ando pelo desmatamento em MT e os conflitos minerários em MG. O calendário culminará com a 3ª Jornada da Natureza no Paraná, entre 2 e 7 de junho, reforçando a conexão entre a luta pela terra e a defesa do meio ambiente. “Vamos ter a terceira Jornada da Natureza no Paraná, que vai semear 21 toneladas de palmeira juçara – espécie de árvore que estava em extinção no bioma Mata Atlântica”, lembra Loureiro.

Desafios e vivências

Fernanda Farias, do Coletivo de Juventude do MST, destaca o desafio de formular para a sociedade e nos territórios a questão ambiental como uma luta central, de forma que o povo participe desse processo como um todo, e complementa. “Temos também o desafio organizativo: como avançar no debate da questão ambiental com a juventude Sem Terra nos estados, uma vez que temos limites organizativos nos estados que não tem coletivo consolidado? Outro desafio é o de mobilização de recursos para esses espaços que vão acontecer na jornada, desde o formativo ao de enfrentamento”.

Ao mesmo tempo, Farias aponta as ações para superar estes desafios. “As JURAs (Jornadas Universitárias em Defesa da Reforma Agrária) tem um papel importante de diálogo com a juventude que está na universidade e que tem mais vínculo com a cidade, e esses espaços são importantes para dar unidade e apresentar a Reforma Agrária Popular como projeto. Entendemos que, de forma geral, a juventude tem sido protagonista na luta em defesa dos bens comuns e da natureza, e segue com ações junto à classe trabalhadora urbana, ampliando articulações, fortalecendo o trabalho de base, ações de solidariedade, plantio, roçados e assembleias populares sobre a questão ambiental”.

Juventude Sem Terra em ação do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, em 2022. Foto: Acervo do MST

As mobilizações ocorrem em um contexto de crescente tensão no campo, onde apenas em 2023 foram registrados 35 assassinatos em conflitos por terra, segundo a Comissão Pastoral da Terra (T). Ao mesmo tempo, o Movimento busca influenciar os debates da COP30, em que o governo federal prometeu priorizar temas como a regulamentação de mercados de carbono – proposta que o MST classifica como “falsa solução” para a crise climática.

Em junho estão previstas ainda ações de plantio de árvores, construção de viveiros e uma campanha digital com a série “Registros da Terra: O MST nos biomas brasileiros”, mostrando experiências concretas de convivência sustentável com os ecossistemas. Neste sentido, as vivências em assentamentos serão retomadas este mês de junho, com o objetivo de mostrar na prática o contraste entre o modelo predatório do agronegócio e as experiências de produção agroecológica, reflorestamento e educação do campo desenvolvidas pelas famílias assentadas, lembra Bárbara Loureiro.

“Entendemos que ela faz parte também de aproveitar esse momento pós-Feira Nacional, agora em maio, para fazer um grande chamado à sociedade em defesa da Reforma Agrária Popular. As vivências são um convite, uma convocação a um conjunto de organizações, coletivos, estudantes e aliados para conhecer as áreas de Reforma Agrária, apresentar o que temos construído, como a produção agroecológica, a produção de bioinsumos, a mecanização do plantio de árvores, a cultura das nossas escolas do campo, nossas experiências de saúde popular e outras experiências organizativas que temos construído no nosso dia a dia”.

Fernanda Farias complementa sobre a Jornada como uma forma de dialogar com pautas também importantes para o Movimento. “Temos entendido que, na crise ambiental, alguns sujeitos são mais afetados, que já estão na margem de forma geral, no que se diz a direitos de uma boa vida. A crise ambiental atinge todos os povos e seres humanos, especialmente a classe trabalhadora, os povos originários, os camponeses, os centros urbanos periféricos, os mais pobres, as mulheres, os sujeitos LGBTI+, os negros, e as gerações mais jovens – à juventude e as crianças. A luta pela vida da terra é uma luta pela nossa vida, por nossos corpos e territórios”.

COP30

Foto: Christian Braga/Greenpeace

Bárbara Loureiro destaca ainda que este ano é emblemático no que diz respeito às questões ambiental e climática não apenas pela realização da COP30 no Brasil, mas também pelos impactos cada vez mais perceptíveis no cotidiano decorrentes de eventos climáticos extremos – como secas e estiagens severas, enchentes, crise hídrica, queimadas e diversos outros efeitos e consequências.

O tema da defesa da natureza se torna definidor da nossa própria condição de existência enquanto seres humanos – e da possibilidade, pensando nos nossos assentamentos, acampamentos e territórios de Reforma Agrária, de continuar produzindo alimentos saudáveis. Não tem como avançar na Reforma Agrária Popular hoje sem enfrentar os desafios da questão ambiental; por isso, temos o nosso Plano Nacional”, afirma Loureiro.

Segundo ela, cabe dizer também que “esse é um tema em disputa na nossa sociedade. E, enquanto MST, nós entendemos que temos o desafio e a tarefa de denunciar como e por que o agronegócio é o grande responsável pelo que está acontecendo. Isso não pode ficar escondido, e a gente não pode só ficar falando sobre como temos sentido essa mudança no clima e os impactos do tema ambiental”.

Para Fernanda Farias, a COP30 é entendida como espaço que responde às questões capitalistas e que não apresenta um projeto concreto para solucionar as questões urgentes da sociedade no que diz respeito ao tema ambiental. Pelo contrário, esse espaço respalda falsas soluções para as questões da natureza, com o intuito de lucrar sobre as condições que a natureza tem enfrentado.

“Nós, enquanto juventude, vemos esse espaço como um lugar para disputar mesmo, desde as elaborações, mas principalmente como espaço para denunciar que os causadores da crise não devem ser ouvidos, mas sim penalizados. E que os guardiões da terra – os indígenas, os camponeses – merecem espaço para apresentar as ações que, de forma concreta, ajudam a sociedade e a natureza a viverem em conjunto”, afirma Farias. Nesse sentido, ela complementa apontando que a jornada “dá esse pontapé inicial para pressionar por políticas públicas voltadas para a defesa do meio ambiente e também para mostrar à sociedade o que a Juventude Sem Terra e o MST pensam sobre esse espaço, apresentando a própria Reforma Agrária Popular como um horizonte”.

Bárbara conclui destacando a importância de aprofundar a necessidade do plantio permanente de árvores como uma ação do dia a dia, mencionando que isso poderia incluir atividades como realizar uma marcha, organizar uma cooperativa e também plantar árvores, mas sempre em conjunto com a sociedade. “É nesse caminho que a Reforma Agrária Popular se apresenta: como saída, como esse lugar que enfrenta, mas também anuncia um caminho de esperança para a humanidade diante da crise ambiental e climática”, finalizou.

*Editado por Solange Engelmann