A luta é contra o machismo, o racismo e a opressão de classe! Tudo junto e misturado! Já!
Neste Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, leia o artigo de Priscila Facina Monnerat sobre as lutas do mês de novembro

Por Priscila Facina Monnerat
Do Setor de Gênero do MST
Estamos em novembro, mês que nos convida a refletir, mobilizar, manifestar e agir, a partir de duas datas importantes, que remetem à duas temáticas essenciais na luta pela transformação da sociedade, a Consciência Negra e a luta no Combate à Violência Contra a Mulher.
O Dia Nacional da Consciência Negra, estabelecido pela lei nº10.639/2003, no dia 20 de novembro homenageia Zumbi dos Palmares, grande líder da resistência negra e da luta pela liberdade, e também resgata e homenageia as raízes dos povos afro-brasileiros com todo seu legado na formação econômica e sociocultural do nosso país. Os povos africanos trazidos para o Brasil, pertenciam a civilizações milenares, que são consideradas o berço da humanidade, onde desenvolveram a escrita, astrologia, agricultura, culinária entre outras tantas coisas importantes. Esse povos foram seqüestrados e trazidos para o Brasil onde foram escravizados, ainda assim trouxeram grandes contribuições nos aspectos sociais, políticos, religiosos, artísticos e para a formação sociocultural e econômica do nosso país. E é esta consciência que celebramos neste mês, mas só isto não basta, é preciso combater o Racismo em todas as suas formas de expressão. A luta antirracista está para além da superação à discriminação pela cor da pele, é enfrentamento a um sistema que privilegia as pessoas brancas, que é muito mais violento e assassino com xs negrxs, que são 75% das pessoas mortas pela polícia, 61% das vítimas de feminicídio são as mulheres negras. Também é uma luta por processos que permitam a correção das desigualdades estabelecidas durante cinco séculos de história.
A outra data importante deste mês é o dia 25, Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher, data que foi estabelecida durante o I Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe realizado em Bogotá, Colômbia, em 1981, em homenagem às irmãs Mirabal. Em 1999, esta data foi reconhecida pela ONU como um dia internacional de luta. As Irmãs Mirabal: Pátria, Minerva e Maria Teresa, também conhecidas como “Las Mariposas”, se destacaram no engajamento na luta política, contra uma das piores ditaduras da América Latina, liderada Rafael Trujillo de 1930 a 1961, na República Dominicana. As irmãs foram brutalmente torturadas e assassinadas por enforcamento, e logo em seguida seus corpos foram lançados a um abismo dentro de um jeep, para simular um acidente, a mando de Trujillo. Exemplo de violência extrema que aconteceu a milhares de pessoas em diversas ditaduras em nosso continente e na ditadura militar que vivenciamos no Brasil de 1964 a 1984.
Os diversos tipos de violências nas relações sociais, intrínsecas a racionalidade capitalista, se reforça na violência institucionalizada, e nas respostas para uma crise sem precedentes, com mais violência. Mas para as mulheres, tudo isto é pior, numa sociedade ordenada por um antigo e bem enraizado sistema social, denominado de patriarcado, forjado na construção social da desigualdade e hierarquização entre homens e mulheres. O patriarcado junto ao racismo conforma a sociedade de classes em nosso país e por conseguinte, a desigualdade social.
Desta forma, tem se originado e mantido relações humanas violentas baseadas na predominância do protagonismo masculino como agressor e do feminino como principal alvo, que também chamamos de machismo. A violência machista se manifesta de várias formas: psicológica, moral, sexual, patrimonial, mas infelizmente, são tão naturalizadas em nossa cultura, que só chama a atenção quando extrapola para a violência física. O que nos indica uma grande luta pela frente.
Vivemos uma crise multidimensional de enorme intensidade, que se aprofunda pela pandemia. Mais que nunca se faz necessária uma revolução, que a por transformações radicais nas relações sociais, políticas, tecnológicas, econômicas e éticas. E que a necessariamente pela dimensão afetiva, precisamos de mais empatia com nossos pares, precisamos nos enxergar como parte da natureza. Sem a dimensão do afeto é impossível superar as estratégias de poder que aprisionam os corpos e mentes, perpetuando as diversas formas de opressão e exploração, como o machismo e o racismo.
Por isto o Setor de Gênero, através da Jornada “Cultivar Afetos! Combater a Violência! Convoca a todxs trabalhadorxs do campo e da cidade para se unir na reflexão e ação para transformação das relações sociais e humanas, sejam elas entre homens e mulheres, entre negrxs e brancxs, pessoas de diferentes orientações sexuais, de diferente gerações e de todas estas com outros seres da natureza e com todos os bens comuns. Cultivando relações baseadas na igualdade, no respeito, no cuidado como próximo e com o ambiente. Para isto precisamos combater toda forma de preconceito, discriminação, injustiça e violência. Tudo isto incorporado em nossas ações cotidianas, na luta por terra, pela agroecologia e pela produção de alimentos saudáveis, na luta por trabalho e direitos para o povo do campo e da cidade. Até que possamos romper com todas as cercas que nos impedem de viver, ser livres e sonhar!